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    Workshop reuniu especialistas e famílias na luta contra tumor pediátrico raro

    13 de novembro de 2024
    Comitiva do IPP presente no 1º primeiro workshop do International Consortium on Pediatric Adrenocortical Tumor (ICPACT) em Campinas, no Centro Boldrini.

     

    Nos dias 7 e 8 de novembro, o primeiro workshop do International Consortium on Pediatric Adrenocortical Tumor (ICPACT) reuniu pesquisadores e profissionais da saúde de vários países, estudantes e famílias afetadas pela mutação do gene TP53, associada ao tumor de córtex adrenal pediátrico (TCA). Essa condição é rara, mas tem alta incidência no Paraná e em Santa Catarina, com uma taxa cerca de 20 vezes superior à média mundial. O evento foi organizado pelo diretor-científico do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, Bonald Figueiredo, e realizado no Centro Infantil Boldrini, em Campinas.

    Bonald ressaltou a relevância do encontro para a troca de conhecimento entre profissionais e famílias. “Esse workshop é um marco importante na luta contra o TCA. A participação ativa das famílias não só enriqueceu as discussões científicas, mas também proporcionou um entendimento mais profundo das necessidades daqueles que enfrentam essa difícil condição”, afirmou.

    Para Bonald Figueiredo, o evento foi um marco importante na luta contra o TCA, pois possibilitou a troca de conhecimento entre profissionais e famílias.

    Participação de pacientes e famílias

    Entre os momentos mais emocionantes do evento, destacaram-se os depoimentos das famílias, que compartilharam suas histórias de luta contra o câncer e a importância do diagnóstico precoce. Maria Eduarda Woinarovicz, hoje com 18 anos e estudante de Psicologia, lembrou-se da luta contra o tumor, diagnosticado quando tinha apenas 3 anos e meio. “O acesso à informação e a divulgação sobre os tipos de câncer são essenciais. É preciso que as pessoas saibam como reconhecer os sinais e ter o apoio adequado. Eu gostaria de ajudar outras famílias, assim como a minha foi ajudada, através do apoio psicológico”, realçou Maria Eduarda, que após vencer a doença se dedica a transformar sua experiência em algo positivo para os outros.

    Ela também mencionou o impacto profundo que sua mãe teve no processo de superação: “Minha mãe sempre dizia que queria ver o que eu me tornaria. Infelizmente, ela não está mais aqui para ver, mas tenho certeza de que ela ficaria muito orgulhosa do meu caminho.” A mãe de Maria Eduarda também tinha a mutação do gene TP53 e faleceu em decorrência de um câncer.

    Maria Eduarda Woinarovicz teve o tumor diagnosticado quando tinha apenas 3 anos e meio. Hoje, com 18 anos, é estudante de Psicologia e vai fazer iniciação científica no IPP.

     

    O relato de Roberto Woinarovicz, pai de Maria Eduarda, também trouxe à tona a importância do acolhimento no tratamento. “O Hospital Pequeno Príncipe fez toda a diferença na nossa trajetória. A rapidez no diagnóstico e o tratamento eficiente fizeram com que, poucos dias após a cirurgia, ela já estivesse brincando. O acolhimento da equipe médica foi fundamental”, frisou Roberto, visivelmente emocionado.

    Outras vozes de pais e familiares, como a de Michele Ferracine, mãe de um menino diagnosticado com câncer de adrenal, também se destacaram durante o painel. Michele enfatizou a importância do diagnóstico precoce, não apenas para salvar vidas, mas também para melhorar a qualidade do atendimento. “Saber da mutação genética na minha família trouxe uma nova perspectiva sobre como os profissionais de saúde devem tratar o caso do meu filho e dos nossos familiares. Esse diagnóstico mudou nossa trajetória e nos trouxe segurança para buscar o acompanhamento adequado”, contou Michele, que salientou como a informação sobre a mutação ajudou a evitar complicações em sua própria saúde e na de sua família.

    Maria Ivonete Tramuntinn, mãe de Michele, compartilhou sua experiência de luta contra o câncer, que passou a ter um novo significado depois do diagnóstico genético. “Quando fiz o exame e descobri a mutação, pude buscar os tratamentos mais adequados. Mas a prevenção no Brasil ainda é muito limitada, e a cultura de exames genéticos preventivos ainda precisa ser difundida”, pontuou Ivonete, reforçando a necessidade de um olhar mais atento para a genética como ferramenta crucial na detecção precoce de doenças.

    A participação de Cheryl Berno, diagnosticada com câncer de adrenal aos 49 anos, também trouxe uma perspectiva adulta sobre a doença. Cheryl, que enfrentou dificuldades para encontrar informações sobre sua condição rara, tornou-se uma defensora ativa de políticas públicas e melhores condições para o diagnóstico e tratamento de doenças raras. “A falta de informação é um dos maiores desafios. Eu sou uma sobrevivente, mas muitas pessoas não têm a mesma sorte. A conscientização é a chave para salvar vidas”, ponderou Cheryl.

    Durante o workshop, as famílias puderam compartilhar as suas histórias de luta contra o câncer e reforçar a importância do diagnóstico precoce.

     

    Ampliação da triagem

    Raul C. Ribeiro, pesquisador do St. Jude Children’s Research Hospital, reforçou a necessidade de uma triagem genética mais ampla no Brasil. “O diagnóstico precoce não só salva vidas, mas também reduz os custos para o sistema de saúde e evita o sofrimento prolongado das famílias”, declarou Raul, explicando que a detecção da mutação TP53 permite prevenir o câncer em estágios iniciais, o que é fundamental para melhorar o prognóstico.

    Segundo a médica Gabriela Luiz, do Hospital Pequeno Príncipe, especialista em oncologia pediátrica, a colaboração entre as famílias e a comunidade médica é essencial para implementar protocolos de triagem genética mais amplos no país, o que pode ser um divisor de águas no tratamento das crianças afetadas pela mutação no TP53. “A troca de informações entre diferentes países e profissionais é fundamental para o avanço no entendimento e na prática clínica, além de promover uma conscientização maior sobre a importância do diagnóstico precoce, que pode salvar vidas”, disse Gabriela.

    Figueiredo, que tem dedicado mais de 28 anos ao estudo do TCA, citou os avanços no diagnóstico e no tratamento, lembrando que a mutação genética TP53, identificada em mais de 90% dos casos no Paraná e Santa Catarina, é um dos principais focos da pesquisa. “A detecção precoce, com testes genéticos ainda na maternidade, é essencial para melhorar as chances de tratamento e cura. Esse workshop foi uma oportunidade única para compartilhar os resultados de nossas pesquisas e integrar ainda mais a comunidade científica global”, explicou Bonald.

    Camila Daiggi, oncologista pediátrica do Centro Boldrini, também abordou a importância da detecção precoce e do diagnóstico genético. “Embora o tumor de córtex adrenal seja raro, ele é curável se diagnosticado precocemente. Este workshop é fundamental para fortalecer a rede de profissionais e instituições que trabalham juntos para melhorar as taxas de cura”, opinou Camila, respaldando que a colaboração entre países e centros de pesquisa é crucial para combater a doença de forma eficaz.

    O workshop reuniu pesquisadores, profissionais de saúde, estudantes e famílias no Centro Boldrini, em Campinas.

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