Pesquisa brasileira avalia biomarcadores e variações genéticas associadas a casos graves de COVID-19

Um estudo desenvolvido no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP), em Curitiba, buscou identificar biomarcadores (teciduais e genéticos) associados a uma via inflamatória em pacientes que morreram por formas graves nas duas ondas da COVID-19 em Curitiba (PR). Especificamente, a pesquisa encontrou maiores níveis de expressão em três moléculas no tecido pulmonar – TLR4, NLRP3 e IL-18 – de pacientes que foram a óbito na segunda onda da COVID-19.
Além disso, os pesquisadores também identificaram polimorfismos genéticos (pequenas variações no DNA) nos genes ACE2 e TLR4, que poderiam influenciar a resposta do organismo ao coronavírus. Segundo o coordenador do estudo, o pesquisador do IPP Cleber Machado Souza, esses achados ajudam a compreender por que algumas pessoas desenvolvem COVID-19 grave, enquanto outras enfrentam sintomas leves ou moderados.
“Ainda é cedo para usar esses biomarcadores como indicadores clínicos, mas os dados fortalecem o conhecimento científico e apontam para possíveis estratégias futuras de tratamento mais eficazes e personalizadas”, explica Machado Souza.
Essas descobertas podem reforçar a importância da medicina personalizada – área que adapta tratamentos, por exemplo, conforme o perfil genético e biológico de cada paciente – e podem colaborar com ações estratégicas em saúde pública, especialmente em futuras pandemias.
O que foi descoberto nesse estudo sobre COVID-19
A pesquisa analisou um total de 62 amostras de tecido pulmonar, sendo 42 de pacientes que morreram por COVID-19 (primeira e segunda onda) e 20 de indivíduos sem a doença (grupo de controle). As amostras revelaram aumento tecidual das moléculas TLR4, NLRP3 e IL-18 nos pacientes da segunda onda da COVID-19. Essas moléculas pertencem à via do inflamassomo e, quando estão em desequilíbrio, em excesso, podem causar danos inflamatórios severos aos tecidos. O inflamassomo é um complexo proteico que desempenha um papel crucial no sistema imunológico, detectando e respondendo a ameaças, como bactérias e vírus, ou a dano celular.
Além disso, foram detectadas variações genéticas nos genes que codificam as moléculas presentes no inflamassomo, que podem contribuir para uma maior expressão dessas proteínas e com isso ser possível identificar precocemente indivíduos mais vulneráveis a determinado desfecho, tal qual a morte. Essas alterações podem modificar a forma como o organismo reconhece e responde à presença do vírus ao regular a inflamação.
Parcerias fortalecem pesquisa e formação de cientistas
A pesquisa é fruto de uma importante colaboração entre o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e o Laboratório de Patologia Experimental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Esse projeto iniciou na PUCPR, onde a pesquisadora Lucia de Noronha estudou o inflamassoma nos pacientes da primeira onda da COVID-19, e em 2022 houve o planejamento para a continuidade desse estudo envolvendo pacientes da segunda onda.
As amostras pulmonares com a devida aprovação do Comitê de Ética da PUCPR e, também, dos familiares constituíram um banco específico que foi submetido a análises genéticas (extração do DNA e genotipagem) realizadas no IPP. Essa pesquisa foi utilizada como tema para o mestrado do estudante Thiago Rodrigues dos Santos no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente do instituto, uma parceria com a Faculdades Pequeno Príncipe (FPP). Além do Thiago (bolsista da Capes), também foram envolvidos outros estudantes sob orientação de Machado Souza, como o doutorando Leonardo Vinícius Barbosa (bolsista da Capes) e o estudante de graduação da FPP Fábio Eduardo de Lima (bolsista PIBIC da Fundação Araucária de Desenvolvimento Científico do Paraná).

A pesquisa foi viabilizada com apoio financeiro da Associação Raul Carneiro, mantenedora do Hospital Pequeno Príncipe. O recurso foi fundamental para a aquisição de reagentes e para o processamento das análises laboratoriais.
O projeto será finalizado em julho de 2025, com a defesa do mestrado de Thiago Rodrigues. A equipe pretende submeter o artigo científico com os resultados até junho deste ano.
Contribuição da pesquisa
Os resultados do estudo podem contribuir no futuro para a criação de ferramentas que terão a possibilidade de ajudar a prever o risco de um paciente desenvolver COVID-19 grave. Isso permitiria oferecer tratamentos mais eficazes e personalizados, além de apoiar políticas públicas de prevenção.
“Essas informações podem ajudar médicos e gestores de saúde a tomar decisões mais rápidas, salvando vidas. Entender a resposta tecidual à infecção viral, tendo como base a participação da influência do nosso DNA, é essencial para desenvolver ações de prevenção em futuras pandemias, por exemplo”, afirma Cleber Machado Souza.