O cogumelo gigante e o câncer – uma nova fronteira na terapia antitumoral

Nos laboratórios do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisadores conduzem um estudo minucioso sobre as fucogalactanas (um tipo de polissacarídeo) extraídas do cogumelo Macrocybe titans. A pesquisa, realizada em parceria entre as duas instituições, é liderada por Marcello Iacomini (UFPR) e contou com a participação da pesquisadora Fhernanda Ribeiro Smiderle (IPP) como coorientadora da doutoranda Shayane da Silva Milhorini, que atualmente faz pós-doutorado no instituto.
O estudo foi publicado na revista Carbohydrate Polymers, no artigo “Different molecular weight fucogalactans from Macrocybe titans mushroom promote distinct effect on breast cancer cell death”, e revela que esses polissacarídeos (carboidratos) podem influenciar o destino de células tumorais, promovendo morte programada sem causar danos às células saudáveis.
“Ao contrário de muitas terapias anticâncer convencionais, que atacam tanto células doentes quanto saudáveis, buscamos alternativas menos agressivas, capazes de interromper o crescimento tumoral de forma mais seletiva”, explica Fhernanda.
A pesquisa comparou os efeitos das fucogalactanas F1 e F2 em dois tipos de células de câncer de mama: MDA-MB-231 e MCF-7. A descoberta mais surpreendente foi que, embora quimicamente idênticas, as duas moléculas apresentaram comportamentos distintos devido a suas diferenças de tamanho.
A fucogalactana F2, 20 vezes maior que a F1, induziu apoptose e necrose – processos de morte celular, de forma programada ou não – nas células tumorais, enquanto a F1 apenas retardou o desenvolvimento das células.
O impacto desse estudo vai além do conhecimento básico. O câncer de mama, um dos mais incidentes no mundo, ainda desafia a medicina com sua complexidade e resistência a tratamentos. Com terapias convencionais frequentemente associadas a efeitos colaterais severos, a possibilidade de desenvolver alternativas menos tóxicas representa uma revolução no campo da oncologia.
“Ainda não compreendemos completamente os mecanismos pelos quais a F2 induz a morte celular, mas sabemos que o tamanho da molécula influencia essa atividade”, destaca Fhernanda.

A pesquisa contou com o trabalho de três bolsistas – dois doutorandos e um pós-doutorando –, além do apoio de instituições como Capes, CNPq e o próprio Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. A colaboração entre diferentes instituições, incluindo a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Alto Vale do Rio do Peixe, fortaleceu a robustez dos experimentos.
Destaca-se no projeto, além da pesquisadora do IPP e professora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), uma parceria com o IPP, Fhernanda Smiderle, a estudante de pós-graduação Renata Rutckeviski. Além delas, participaram Shayane Milhorini (UFPR), Matheus Zavadinack (UFPR), Fábio Rogério Rosado (UFPR), Marcello Iacomini (UFPR) e Ariana Centa (Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – SC).
Apesar dos avanços, a pesquisa ainda está em fase preliminar, sem aplicação clínica imediata. No entanto, a publicação na revista científica, com fator de impacto de 10,7, confere credibilidade ao estudo e abre portas para futuros desdobramentos. “Publicar em uma revista desse nível é um reconhecimento de que estamos produzindo ciência de qualidade e contribuindo para o avanço do conhecimento sobre terapias anticâncer”, afirma Fhernanda.
Os próximos passos ainda são incertos, mas o estudo reforça um caminho promissor: o potencial de compostos naturais como aliados na luta contra o câncer. No silêncio dos laboratórios, em que soluções inesperadas surgem de lugares improváveis, um cogumelo gigante pode estar inaugurando uma nova era na oncologia.
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https://doi.org/10.1016/j.carbpol.2025.123318.