Do Paraná à Holanda: bioimprimindo esperança contra o Parkinson

Uma jornada científica que começou em Curitiba e atravessou o oceano está dando novos contornos à luta contra a doença de Parkinson. A doutoranda Nádia Nascimento da Rosa, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, da Faculdades Pequeno Príncipe e do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, está desenvolvendo uma estrutura 3D da substância nigra, região cerebral comumente degenerada nos pacientes com Parkinson, utilizando células-tronco mesenquimais diferenciadas em neurônios dopaminérgicos. O projeto une biotecnologia de ponta, colaboração internacional e um propósito claro: oferecer esperança.
Orientada pela professora neurologista Katherine Athayde Teixeira de Carvalho (FPP/IPP), Nádia atua no Grupo de Pesquisa em Terapia Avançada e Biotecnologia Celular em Medicina Regenerativa, com foco no uso de células-tronco mesenquimais para doenças neurodegenerativas. Seu trabalho ganhou fôlego com um estágio de seis meses na Universidade de Maastricht, na Holanda, com apoio do programa da Capes para doutorado sanduíche.

Na Europa, a jovem pesquisadora teve acesso a tecnologias de ponta, como microscopia de dois fótons e confocal na Universidade de Maastricht e no Hospital Universitário de Aachen, além de uma bioimpressora de alta precisão no Instituto MERLN de Medicina Regenerativa, também localizado na Universidade de Maastricht. “Foi uma experiência incrível. Aprendi muito. Além da rica colaboração com colegas em Maastricht, pude fazer uma apresentação oral no EURON PhD Days, um congresso de neurociências realizado em Colônia [Alemanha]. Também gostei muito de visitar um laboratório de microscopia de dois fótons na Universidade de Aachen [Alemanha]. Mas o resultado mais surpreendente dessa experiência é que meus professores iniciaram o processo que me permitirá obter uma dupla titulação de doutorado, pelo IPP/FPP e pela Universidade de Maastricht”, relata Nádia.
A estrutura impressa é composta por diferentes tipos de neurônios — dopaminérgicos, colinérgicos e gabaérgicos — cultivados em um hidrogel à base de membrana amniótica, com o objetivo de reproduzir funcionalmente a substância nigra e produzir dopamina. No entanto, o desafio de observar essa estrutura no Brasil, onde havia apenas um microscópio de fluorescência convencional, levou-a a buscar o apoio internacional. “Com esse equipamento, não era possível estudar uma estrutura espessa como a que desenvolvi”, explica.

Em Maastricht, sob orientação dos professores Marc van Zandvoort, Lorenzo Moroni e Carlos Mota, ela não só dominou o uso dos equipamentos avançados como participou de atividades como a Microscopy Autumn School e o congresso EURON PhD Days, em Colônia, onde apresentou pôster e fez uma apresentação oral. Sua trajetória foi destaque no site oficial da Euro-BioImaging.
🔗 International collaboration to support Parkinson’s disease research
Com o uso da microscopia de dois fótons, Nádia obteve imagens que comprovam a viabilidade celular e a expressão de proteínas neuronais no hidrogel. Agora, de volta ao Brasil, ela se dedica à análise da expressão gênica das células e à verificação da produção de dopamina. “As imagens são lindas e mostram que as células estão se aderindo à membrana amniótica no hidrogel e se ligando umas às outras”, comemora.
“Os resultados obtidos direcionam para uma melhor compreensão de mecanismos fisiopatológicos da doença de Parkinson, assim como para novas terapêuticas”, destaca Katherine Carvalho.

Mais do que resultados, a experiência abriu caminhos duradouros. Professores do Brasil e da Holanda iniciaram os trâmites para que Nádia obtenha dupla titulação de doutorado pela FPP/IPP e pela Universidade de Maastricht.
A coordenadora do Núcleo de Educação e Relações Internacionais da FPP, Regina Poleza Toazza, celebra a conquista: “A educação internacional permite que o estudante se torne cada vez mais global e apto, com uma melhor capacidade de pensamento crítico, respeito e tolerância.”
A história de Nádia é também um exemplo vivo de como o acesso à ciência de excelência, em rede, pode mudar destinos individuais e transformar possibilidades para a saúde global. Com olhos no futuro, ela segue determinada: transformar sua pesquisa em um tratamento real contra o Parkinson.