Agrotóxicos e malformações: um alerta sobre os defeitos do tubo neural

Uma pesquisa coordenada pela Izonete Guiloski, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP) e professora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), foi tema de um artigo publicado na revista Toxics, intitulado “A Systematic Review of Parental Occupational Pesticide Exposure and Geographical Proximity to Agricultural Fields in Association with Neural Tube Defects”.
O estudo reuniu e analisou evidências científicas sobre a relação entre a exposição de pais e mães a agrotóxicos e a ocorrência de defeitos do tubo neural (DTNs) — graves malformações congênitas que afetam o desenvolvimento do cérebro e da medula espinhal.
“Minimizar a exposição a agrotóxicos é preservar a saúde das próximas gerações”, afirma a pesquisadora.
O problema em foco
Os defeitos do tubo neural estão entre as malformações congênitas mais comuns no mundo. Entre os defeitos do tubo neural, a espinha bífida e a anencefalia são condições que podem causar morte precoce ou incapacidade permanente.
No Brasil, um dos países que mais consomem agrotóxicos, a preocupação é ainda maior. Apesar disso, a relação entre agrotóxicos e DTNs ainda é pouco investigada no cenário nacional.
A exposição de pais e mães aos agrotóxicos pode ocorrer de diversas formas: pelo manuseio no trabalho agrícola, pela contaminação do ar, do solo e da água ou mesmo pela simples proximidade de áreas cultivadas e pulverizadas. Essa realidade é particularmente preocupante durante o período periconcepcional.
A revisão sistemática
A pesquisa seguiu as diretrizes PRISMA para revisões sistemáticas e analisou 16 estudos epidemiológicos publicados entre 2000 e 2023, conduzidos principalmente nos Estados Unidos e China. Nenhum estudo brasileiro foi identificado.
Entre os principais achados:
- exposição ocupacional parental associada a DTNs, com evidências mais sólidas para as mães, mas também em crescimento para os pais;
- proximidade geográfica com áreas agrícolas como fator de risco, mesmo para famílias não diretamente ligadas ao trabalho no campo;
- inseticidas que afetam o sistema nervoso foram os agrotóxicos mais frequentemente associados às malformações.
Embora alguns artigos não tenham encontrado associações significativas, o conjunto de evidências indica os agrotóxicos como fatores de risco relevantes no desenvolvimento dos DTNs.
Impacto para a saúde pública
Reconhecer esses fatores é essencial para fortalecer políticas de prevenção, diagnóstico precoce e monitoramento em saúde materno-infantil.
A revisão também apontou lacunas científicas importantes, como a escassez de estudos na América Latina e a necessidade de pesquisas que avaliem a exposição de pais e mães de forma combinada.
Perspectivas futuras
Para Izonete, o próximo passo é investigar populações vulneráveis em países agrícolas como o Brasil, ampliando o monitoramento dos casos de DTN e incluindo a análise da exposição paterna de forma mais robusta.
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