Estudo revela como o mercúrio é transportado no corpo e propõe estratégias de desintoxicação

O estudo “Multidrug Resistance-Associated Proteins 3 and 5 Play a Role in the Hepatic Transport of Mercuric Conjugates of Glutathione” trouxe descobertas inovadoras para a compreensão do transporte de mercúrio – um metal tóxico – no organismo humano. Geralmente, os humanos são expostos ao mercúrio por meio da dieta, principalmente pelo consumo de peixes e frutos do mar contaminados. Essa contaminação é muito comum em regiões de garimpo, como ocorre na região amazônica.
Pela primeira vez, os pesquisadores demonstraram como o complexo GSH-Hg-GSH – uma das formas mais comuns de como o mercúrio inorgânico é transportado no corpo humano. GSH é uma molécula presente no organismo que tem a função de desintoxicação, dentre outras – é transportado do fígado para o sangue, por meio das proteínas MRP3 e MRP5 (moléculas presentes na membrana celular que realizam o transporte, a saída desse complexo do interior do hepatócito [célula hepática] para o sangue), sendo posteriormente absorvido pelo rim e eliminado. Esse conhecimento é fundamental para ampliar a compreensão dos mecanismos de toxicidade do mercúrio e suas formas de eliminação.
A pesquisa foi uma parceria entre pesquisadores do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP)/Faculdades Pequeno Príncipe (FPP) e da Mercer University (Estados Unidos). Pelo IPP participaram Cláudia Sirlene de Oliveira, pesquisadora do Instituto e professora do programa Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, do IPP e da FPP, e Maria Eduarda de Andrade Galiciolli, doutoranda na instituição. O artigo é proveniente do doutorado sanduíche de Maria Eduarda na Mercer University. Ela é a primeira aluna da pós do IPP e da FPP a usufruir esse benefício ofertado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O estudo também teve a colaboração de Lucy Joshee, técnica de laboratório no Departamento de Ciências Biomédicas da Mercer University; Jennifer L. Barkin, estatística e professora pesquisadora na mesma instituição; e Christy C. Bridges, professora pesquisadora na universidade norte-americana.

“A descoberta pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de desintoxicação. Sabendo como o mercúrio é transportado até o rim, torna-se possível pensar em abordagens terapêuticas mais eficazes para acelerar sua eliminação e reduzir os danos causados por intoxicação mercurial”, afirma Cláudia Oliveira.
Maria Eduarda apresentará o estudo “Multidrug Resistance-Associated Proteins 3 and 5 Play a Role in the Hepatic Transport of Mercuric Conjugates of Glutathione” no The SOT 64th Annual Meeting and ToxExpo, que ocorrerá em Orlando (estados Unidos), entre o dias 16 e 20 de março.
Metodologia
A metodologia utilizada foi outro ponto de destaque do estudo. Os pesquisadores empregaram vesículas de membrana invertidas contendo os transportadores MRP3 e MRP5, permitindo a quantificação precisa da absorção do mercúrio por essas estruturas. Essa abordagem experimental é amplamente aceita na comunidade científica e já foi validada em outros estudos, o que reforça a confiabilidade dos resultados.

Apesar do avanço, ainda há questões a serem exploradas. O estudo avaliou exclusivamente o transporte do complexo GSH-Hg-GSH, mas não se sabe se essa é a única forma de mercúrio processada pelo fígado. Os próximos passos da pesquisa incluem a análise de outros conjugados e sua interação com as proteínas MRPs, o que pode ampliar ainda mais o conhecimento sobre os mecanismos de eliminação do mercúrio e auxiliar no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes.
A publicação do estudo ocorreu na revista International Journal of Molecular Sciences, que oferece um fórum avançado para estudos moleculares em química. A revista possui um fator de impacto de 4.9 e um CiteScore de 8.1, métricas que garantem sua alta visibilidade e credibilidade na comunidade científica. Além disso, seu acesso aberto possibilita que um maior número de pesquisadores tenha contato com o estudo publicado.
A escolha da International Journal of Molecular Sciences reforça a importância da pesquisa conduzida pelos cientistas do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe/Faculdades Pequeno Príncipe e da Mercer University, ampliando a disseminação do conhecimento e abrindo caminho para novas abordagens na área de saúde pública e ambiental.
Para ler o artigo, acesse o link:
https://www.mdpi.com/1422-0067/26/3/1194