Pesquisa avalia impacto de anti-inflamatórios na saúde de peixes e alerta para riscos ambientais

O descarte inadequado de medicamentos tem se tornado uma preocupação global devido aos impactos ambientais e às consequências para a fauna aquática. Um estudo do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP) publicado na revista Toxicology Reports revelou como os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), medicamentos para tratar dor e inflamação, como paracetamol, diclofenaco e ibuprofeno (que podem ser usados sozinhos ou estão na composição de antigripais e em remédios para relaxamento muscular), amplamente utilizados por humanos, podem afetar a fisiologia dos peixes ao interferirem em processos antioxidantes essenciais. No artigo “Non-steroidal anti-inflammatory drugs and oxidative stress biomarkers in fish: a meta-analytic review”, a pesquisa, liderada por Izonete Cristina Guiloski e realizada por cientistas do IPP e de instituições parceiras, analisou o impacto de medicamentos como diclofenaco, paracetamol e ibuprofeno no estresse oxidativo, um desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade de defesa antioxidante do organismo dos peixes.
Uma das principais conclusões da pesquisa é a necessidade de desenvolver estratégias para reduzir a presença desses medicamentos em mares, rios e lagos. Como os AINEs são amplamente utilizados e de fácil acesso, sua liberação no meio ambiente ocorre principalmente por meio de esgotos e descarte inadequado. Assim, conscientização da população e investimentos em tecnologias para tratamento de água são medidas fundamentais para mitigar esses impactos.
“Para diminuir a presença de medicamentos na água, é necessária uma conscientização da população quanto ao descarte incorreto e investimento em pesquisas para encontrar estratégias de tratamento de água que eliminem esses produtos”, afirma Izonete Guiloski, pesquisadora do IPP e professora da Faculdades Pequeno Príncipe (FPP).
Alterações significativas
Por meio de uma revisão de estudos de laboratório que avaliaram o efeito dos anti-inflamatórios em várias espécies de peixe, os pesquisadores identificaram alterações significativas em biomarcadores antioxidantes, enzimas que fazem defesa contra a oxidação da célula, após o contato com esses medicamentos. Entre os principais achados, constatou-se que a exposição crônica (por um longo período) e subcrônica (por um período considerável) aos AINEs reduz a atividade da enzima catalase (CAT), essencial para proteger as células contra danos oxidativos. Por outro lado, a exposição aguda resultou no aumento da atividade da glutationa peroxidase (GPx), uma enzima crucial para remover toxinas, resíduos e substâncias nocivas das células.
O paracetamol se destacou como o medicamento que mais influenciou os biomarcadores de estresse oxidativo. Ele elevou os níveis da enzima superóxido dismutase (SOD) e aumentou a peroxidação lipídica, um processo que pode levar ao dano celular, alterando a estrutura e a função das células do organismo. Em contrapartida, também reduziu a atividade da glutationa S-transferase (GST), prejudicando a capacidade do organismo de eliminar substâncias tóxicas. O ibuprofeno, por sua vez, não apresentou alterações significativas nos biomarcadores analisados.
Os próximos passos da pesquisa envolvem aprimorar os biomarcadores utilizados para monitorar a contaminação por AINEs em peixes. Com isso, os cientistas esperam otimizar o uso de recursos laboratoriais e melhorar a capacidade de detecção de danos ambientais causados por esses medicamentos.
“A publicação na revista Toxicology Reports, de acesso aberto, reforça a importância desse estudo ao garantir ampla divulgação dos resultados para a comunidade científica e para o público em geral. A escolha da revista também contribui para aumentar a credibilidade do trabalho, favorecendo seu impacto e a disseminação do conhecimento sobre os riscos dos fármacos no meio ambiente”, ressalta Izonete.
O estudo foi conduzido por Izonete Cristina Guiloski, Claudia Sirlene Oliveira (pesquisadora do IPP e docente da FPP); Henrique Aparecido Laureano (estatístico do IPP); pelos estudantes Meire Ellen Pereira, doutoranda do IPP/FPP; Juliana Ferreira Silva, mestranda do IPP/FPP; e Luiz Henrique Zaniolo Justi, aluno de iniciação científica do IPP/FPP; e por Manuela Santos Santana, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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https://doi.org/10.1016/j.toxrep.2025.101910.